Gênesis Tectônica na DW! Rio 2025: O Futuro do Design Autoral Brasileiro Começa pela Matéria

Este post é um convite à escuta, à contemplação e ao toque — mesmo que à distância — de uma experiência que ultrapassa a estética e mergulha na essência do fazer. A exposição Gênesis Tectônica, realizada durante a DW! Semana de Design Rio 2025 pela DEX, propôs uma pausa no ruído da produção em massa para relembrar algo fundamental: toda forma começa na matéria.

Ao longo deste artigo, compartilho os bastidores e os sentidos dessa mostra, que reuniu dez designers autorais em torno de um mesmo princípio: deixar que o material fale. Mais do que um registro, o texto a seguir é uma extensão da própria exposição — um espaço para refletir sobre como criamos, por que criamos e com o que escolhemos criar.

Se você se interessa por design, arquitetura, sustentabilidade ou simplesmente pela beleza de um processo honesto, convido você a seguir a leitura com atenção e sensibilidade. Gênesis Tectônica foi mais do que uma exposição. Foi um manifesto. E agora, também é palavra.

Índice

Gênesis Tectônica: Por que o Futuro do Design é um Retorno à Matéria

DW! Rio 2025. Um evento que pulsa criatividade e reinvenção. E é nesse solo fértil que apresentamos a exposição Gênesis Tectônica, uma iniciativa da DEX, no CasaShopping. O nome carrega peso e origem. Gênesis, porque estamos falando do início — da centelha criativa que brota da matéria. Tectônica, porque acreditamos que o fazer manual, artesanal, ancestral, ainda é o maior ato de futuro possível.

O que nasceu como uma inquietação minha e de meus sócios Pedro Galaso e Philipe Fonseca — a ausência de espaços no Rio que valorizassem o design independente e autoral — tornou-se hoje um movimento vivo. A DEX não é só uma feira: é uma plataforma de resistência estética. Ela nasce da vontade de celebrar a nova artesania, a ancestralidade e a inteligência embutida em cada material que toca a mão do criador.

A Filosofia por Trás da Exposição

Vivemos em um tempo onde o design muitas vezes começa pela forma — simulada, renderizada, idealizada — antes mesmo que a matéria tenha a chance de dizer algo. Em Gênesis Tectônica, propomos uma inversão radical. Aqui, a forma nasce do contato, da escuta, da negociação entre o criador e o material.

A exposição é, acima de tudo, um manifesto pela materialidade como origem, não como recurso secundário. A madeira, as fibras, os metais, os resíduos — todos falam. É no tato, na resistência, nas falhas e imperfeições que emerge uma nova estética. Colocamos a tecnologia a serviço da ideia, e não o contrário. A autonomia do criador é resgatada quando a matéria dita as regras do jogo.

Um Mosaico de Matérias: Os Projetos da Gênesis Tectônica

O verdadeiro corpo da Gênesis Tectônica é plural. Dez designers se somam neste experimento coletivo, cada um propondo uma tradução radical do que significa dialogar com a matéria. Cada instalação é um gesto singular — uma interrogação, uma fratura ou um novo caminho dentro do pensamento do design contemporâneo. Juntas, essas obras formam um território fértil de investigação sensível e provocação material.

Disformia 01: A Madeira como Linguagem, Não Apenas Material

Fotógrafo: Gabriel Japa

Por Thiago José Barros, Felipe Madeira e Henrique Canella

Na instalação Disformia 01, levo à matéria minha paixão mais visceral: a madeira como corpo e verbo. Essa peça nasceu da vontade de desmontar a ditadura das linhas retas, da padronização e da estética “limpa”. Criamos uma superfície orgânica a partir de fragmentos de madeira — cada um com sua história, seu nó, sua cor, sua imperfeição. Esses fragmentos compõem uma pele viva, fluida, que se organiza a partir de um paraboloide hiperbólico. Aqui, a disformia não é um defeito: é o próprio método. É resistência à descaracterização do natural. É uma nova linguagem visual e ética.

Protoforma

Por Pedro Galaso

Um retorno à origem da criação. Aqui, a fibra natural desce do teto nasce do chão em fluxo contínuo, recusando o objeto final. Estruturas metálicas de cadeiras surgem no fim do gesto, mas não dominam — são só comentário. O foco é o instante anterior à forma: instável, vital e ainda em processo.

A Última Ceia

Por AssimplyEstúdio

Um jantar no ano de 3041, quando a humanidade, adaptada para digerir minerais, se despede da matéria orgânica. Argila, tijolos e resíduos compõem uma mesa que denuncia o esgotamento do planeta. A ceia como fim e como crítica ao consumo predatório.

Desenrola

Por Luciana Duque (OBJ Estúdio)

Partindo das portas metálicas de enrolar do cotidiano urbano, Luciana transforma fechamento em acolhimento. A instalação é uma porta que se curva e se torna banco — uma inversão poética da função. O reaproveitamento de materiais urbanos cria novas camadas de permanência.

Inflexão

Por Manu Almeida

Cordas que dobram, escutam e co-criam. Manu entrega o protagonismo ao material e atua como mediadora. A forma é consequência do gesto que respeita a natureza da corda. Um design que nasce da humildade de ouvir.

Subterfúgio / Irreverência

Por Vaique

Um manifesto sem filtros. O estúdio apresenta seu processo bruto, mostrando que trabalhar com baixo impacto é, antes de tudo, aceitar o erro, a tentativa, o improviso. A matéria, aqui, é território de experimentação, alquimia e crítica.

Reflexos de uma Exposição que Tocou a Matéria e a Alma

A Gênesis Tectônica foi apresentada de 10 a 15 de junho de 2025, no CasaShopping, como parte da DW! Semana de Design Rio. Ao longo desses dias, o espaço se transformou em um território fértil de debate, sensorialidade e provocação. Disformia 01, ao lado das obras dos demais artistas, revelou ao público a potência de um design que nasce do chão, do gesto e do material — e não apenas da ideia.

Conclusão: Repensar, Reverter, Reenraizar

Mais do que uma mostra de peças, Gênesis Tectônica foi uma convocação. Um chamado para que designers, arquitetos e criadores do Brasil voltem os olhos ao chão onde pisam. Para que escutem os materiais, os processos, as histórias abafadas pela pressa da produção em série. Ao colocar a matéria no centro, propusemos um novo ciclo — onde criar, produzir e consumir possam ser atos mais conscientes, colaborativos e enraizados.

Este não é apenas o futuro do design brasileiro.
É o seu recomeço.

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Thiago José Barros

Arquiteto por formação, professor no IED Rio e apaixonado pelo poder expressivo da madeira, transito entre o projeto, a matéria e o fazer. Participo de iniciativas como a Feira DEX, XiloBrasil e Parquet Nobre, sempre buscando traduzir ideias em experiências táteis e significativas.